sexta-feira, 20 de maio de 2011

Fortes emoções em Buenos Aires

Desde o último post já se foi uma semana, e que semana! Já estamos no Brasil, mas os últimos dias na Argentina foram de muita, mas muita emoção...
Farei aqui um apanhado do que aconteceu desde nosso último post, para que vocês tenham uma idéia da coisa toda. Falando já em solo brasileiro, no aconchego da minha casa, com um AC/DC no talo, é possível ter uma clareza maior do que aconteceu, e acho que se por um lado perdemos o “calor do momento” expresso nos primeiros posts, agora é possível fazer um balanço.
Terminamos de gravar as bases no dia 12 de maio no Estudio ION. Foi muito bom gravar lá, o equipamento é de primeira, os funcionários se interessaram pelo nosso som, ajudaram bastante, e os dois técnicos que nos acompanhavam, Juan Stewart e Lulo Rock, conseguiram atingir timbres diferentes para cada música. Eles sempre conversavam antes de cada música, depois de mudar as afinações e os pratos da bateria, para definir comigo uma timbragem comum ao que todos estavam pensando. Com os outros instrumentos foi da mesma maneira. Lulo opinou muito na guitarra de Fofão, e Juan Stewart nas partes de teclado e piano gravadas por Salgado. Foi muito bom interagir com eles, construir algo juntos nessa primeira etapa mais pesada.
Desmontamos as coisas e levamos tudo para o Estudio El Arbol, de Juan Stewart, onde continuaríamos com os overdubs no dia seguinte. Nos ajudaram muito Matias Conejo, Leandro Conejo e Juank Gracia, com quem depois eu saí para comer uma comida italiana no tradicional bairro de Palermo. O resto do pessoal foi para casa e não me avisou...rsrsrs. Quase fiquei preso do lado de fora!
No dia seguinte, 13 de maio, acordamos ao meio-dia e já ligamos para Juan Stewart para combinar o horário do início das gravações. Combinamos de começar às 14:00, e na hora marcada estávamos lá. Esse primeiro dia no El Arbol foi mais centrado nas guitarras do Fofão. Paulão e Salgado opinaram muito. Eu fiquei resolvendo problemas da banda, principalmente os relativos à logística para o nosso show na noite. Foi muito legal ver as músicas tomando corpo no computador, os espaços preenchidos, os acréscimos que o Fofão fez nas músicas que eu conhecia de ouvir o primeiro EP do 4Instrumental, de 2009.  Paramos por volta das 20:30 para ir para o Centro Cultural Plasma, perto do conhecido bairro de La Boca, mas bem afastado da região onde estávamos morando e gravando. Chegamos um pouco atrasados, mas a passagem de som ainda não havia começado, o que nos deixou mais tranqüilos. Conhecemos os responsáveis pelo lugar, Emiliano e Nacho, que nos agradeceram pela presença, falaram sobre o Centro Cultural e nos fizeram ficar bem a vontade. O lugar é cheio de cadeiras estofadas com mesas de acrílico, muito doido. Conversamos bastante com uma das bandas que se apresentaria na mesma noite, chamada Hapiness. O guitarrista falou sobre o que conhecia de música brasileira, que achava a atual fase do Caetano Veloso muito legal e tudo mais. Pra não ficar Caetaneando muito, sugeri o Transa, de 72, que é muito doido mesmo, e tentei mandar outras coisas pra ele não ficar só no Odara. Logo passamos para bandas atuais, e o fato de algumas bandas brasileiras terem tocado na Argentina nos últimos tempo nos fez poder conversar melhor, porque eles conheciam algumas das bandas, como o Do Amor, o Macaco Bong, por exemplo.  O nosso show no dia 13 foi muito legal, o lugar ajudou, pois é uma espécie de Matriz de Buenos Aires (quem mora em BH sabe do que estou falando), só que no segundo andar, não tão cavernoso quanto o Matriz. Tocamos primeiro, e foi bom porque pudemos tomar umas depois e ouvir o som das outras bandas. Me encontrei com amigos no Plasma, foi muito bom. Só saímos de lá às 6 da manhã, para dormir um pouco e voltarmos ao estúdio às 13:00.
No sábado 14 de maio ralamos muito. Foi duro acordar, pois o show nos fez ficar até tarde na rua, e de madrugada é difícil arrumar um taxi em Buenos Aires, ficamos uns 20 minutos caçando taxis. Quando acordamos já era meio-dia, e então nos arrumamos rápido para sair. Salgado, Fofão e Paulão foram na frente, e eu e Carou ficamos em casa para preparar comida para levar para o El Arbol. Comer empanadas pra gravar não dá não. Até alimenta, mas não dá aquela sustança para ficar 10 horas atento, preocupado com detalhes de execução e ouvindo os trechos inúmeras vezes. Fizemos um macarrão que tinha em casa e quando chegamos, por volta das 15:00, Salgado já estava bem avançado em suas partes de teclado e sintetizador. Por volta das 19:00 ele saiu da sala de gravação com um sorriso no rosto, e eu soube que a coisa toda estava quase chegando ao fim. Carou entrou para gravar seu Theremim maluco. Nem vi direito, ela gravou rapidão, e quando ouvi fiquei até meio entorpecido, pois ficou maluco, no sentido bom e louco da coisa.Por volta das 21:00 já estávamos tomando vinho e ouvindo as músicas. Eu,Salgado, Paulão e Fofão pedimos pro Juan, estávamos muito afim mesmo de ouvir aquilo que a gente toca há um tempo em seu registro mais atual, ou seja, aquilo que somos e como soamos agora.  Saímos do El Arbol por volta das 22:30 para passarmos em casa, prepararmos a Copa do Mundo de Fernet e irmos ao La Vecindá, a Vila do Chaves, para comemorar! Assistimos aos showzaços do Azul Dada (www.myspace.com/azuldada) e do Luz Buena (www.myspace.com/luzbuena). Muito bom mesmo! O primeiro uma psicodelia com vários percussionistas, guitarra e sax, e a segunda o melhor e mais meloso da Cumbia argentina!
No dia 15, domingo, acordamos tarde, pois poderíamos ficar em casa até as 17:00. Foi um dia muito estranho esse domingo.  Eu já tinha vivido dias em que nada dá certo, e todo mundo já viveu. Mas tudo dar tão errado como deu nesse domingo eu nunca tinha visto.  Em primeiro lugar, fomos roubados no Terminal Rodoviario de Retiro, levaram o bag com todos os pratos. Foi um desastre, estávamos prontos para embarcar para La Plata e só então demos a falta do bag. Depois de tentar de todos os jeitos, a saída foi ir para La Plata e fazer o show profissionalmente, mas confesso que foi difícil. Irônico, porque o lugar era lindo, um dos mais bonitos em que eu já toquei na vida, mas o clima não era dos melhores. O som estava ótimo, o show foi muito bom, a casa estava cheia. Mas logo depois as pessoas foram embora, não ficando para ver a outra banda, e isso também nos prejudicou, pois a arrecadação da casa caiu e eles não cobriram todas as nossas despesas, de forma que Leandro Conejo, que era quem estava cuidando da noite, tomou também seu prejuízo. Para terminar, ficamos sabendo que o nosso bom amigo Juank Gracia havia sido assaltado na saída de uma festa e sofrera ferimentos feitos com um canivete, tendo que sofrer uma pequena operação. Ou seja, não foi um dia especialmente bom para se existir em Buenos Aires.
A ressaca no dia seguinte era evidente. Mas como tínhamos muitas coisas a fazer, decidimos tentar esquecer isso e resolver os problemas pendentes para irmos embora no dia seguinte. Algumas tarefas eram obrigatórias: Ir a La Vecindá para trabalhar um pouco com Circuit Bending (fabricação de pedais e circuitos), passar no Estudio El Arbol, enfim, coisas a resolver. Nos encontramos À noite no La Vecindá para um jantar de despedida, no qual a Carol preparou arroz, feifão e farofa de carne com ovo. Foi lindo! Seguimos para a Radio La Tribu M, onde teríamos nosso último compromisso na Argentina, uma entrevista para o programa FMP3, produzido pelo pessoal do La Vecindá. Foi muito legal, descontraído e interessante pela mescla de diferentes sons. A despedida no La Vecindá foi legal, ficamos com saudades ainda lá.
No dia 17 viajamos cedo, Às 09:40, e só chegamos em Confins às 17:40. Ficamos de um lugar para o outro, fazendo transbordo entre aeroportos, uma correria.
Bom, o saldo dessa viagem? Na hora foi complicado responder essa pergunta, que aposto que todo mundo se fez. Isso porque o baque do roubo ainda estava latente. Mas mesmo com todos os problemas, que não foram pequenos, acho que saímos dessa mais fortes. Em primeiro lugar porque teremos que trabalhar duro para recuperar o que tínhamos. Em segundo porque não nos furtamos a isso, vamos continuar e pronto. Em terceiro porque o que fizemos lá foi muito bom, de alta qualidade, e sincero, foi a gente, o 4Instrumental, a Carou, o Fóeceps, o Fluxo e todos os argentinos que nos ajudaram lá e que tornaram a nossa estadia uma coisa da qual vamos nos lembrar quando escutarmos cada faixa do disco.
Como diz o Fofão: “Aqui é motor de carreta.”

Aquele abraço!

Raul
4Instrumental + Carou

Rangando depois de um dia cansativo de gravações no Estudio ION
Para não esquecer
Da central de controle no Estudio ION
Ralando com ajuda do mate
A nave espacial
Carou e sua câmera: o olho que tudo vê.

Ajustando timbragens

Salgado se divertindo no pianão!
Um brindo ao término das gravações!
Foto da equipe!
Fernet Branca - Isso chapa!
Estacción Provincial de La Plata
4Instrumental (Rock/Brasil)
Falsos Conejos, 4Instrumental y Braza/Ar en La Vecindá!!!! Viva La Veci!!

(Fotos: Raul Lanari, exceto última, La Vecindá-Buenos Aires/Arg.)

Um comentário:

Paulo disse...

ufa... agora é so ouvir o cd e lembrar dos momentos em que fomos "Hermanos". Boas lembranças, outras nem tanto, mas estamos vivos e sóbrios. Como diz Salgado: "Tamo na Pilha". Paulão!