quinta-feira, 12 de maio de 2011

Apertando o REC

Há três dias não postamos nada no blog. Isso acontece porque a ralação aqui não para. A segunda feira foi um dia em que as pessoas se separaram para fazer diversas coisas da agenda da banda, e mesmo dar uma espairecida, porque o trabalho aqui está bem pesado.
Eu fui às 14:00 novamente à Rádio La Tribu, pois fui convidado por Leandro Conejo, dos Falsos Conejos, para participar de sua coluna “Buenos Aires Experimental”.  Cheguei lá e fiquei conversando com Ezequiel Ábalos, que estava com um vinil do Tubular Bells do Mike Oldfield (que tem a musiquinha d’O Exorcista) e falou sobre alguns nomes da história do rock argentino.  Falei pra ele os que eu conhecia e ele me mostrou um exemplar de seu livro, recém lançado, que se chama “La Historia Del Rock Argentino contada por sus protagonistas”. O livro conta com um cd com o áudio das entrevistas realizadas por Ezequiel.
A entrevista foi muito boa, escolhi duas bandas que me agradam muito, Aeromoças e Tenistas Russas, de São Carlos, companheiros nossos de vários festivais, e o Frito Na Hora, da minha amiga outro-lóki Milagros Vasquez e de tantos outros amigos – o grupo conta com 19 membros. A abertura do programa foi um poema do Carlos Drummond de Andrade, e obviamente me pediram pra falar alguma coisa do Drummond. Falei o que dava pra explicar em 30 segundos sobre modernismo e tal (coitado do Drummond...) e depois disso a entrevista seguiu muito descontraída, uma troca de idéias muito legal entre mim, Leandro Conejo e Ezequiel. Ao fim da gravação combinamos de gravar nos próximos dias mais uma ou duas colunas, isso vai depender do pessoal da Radio La Tribu. Na saída encontrei com um amigo meu brasileiro que mora aqui em Buenos Aires (Ramon) e, junto com Leandro fomos ao Parque Centenário com umas garrafas de um litro de cerveja.
Já o resto do povo se dividiu, mas acabaram se encontrando no La Vecindá, onde conversaram com o pessoal mais minuciosamente sobre o Coletivo Fórceps, as ações na cidade de Sabará, as tentativas de aproximação com as políticas públicas na área da cultura, enfim, disseminando a experiência deles e da galera sabarense. Também falaram bastante sobre o trabalho do Espaço Fluxo, que  é um coletivo de artistas de diversos segmentos que pretende promover a fusão entre as linguagens artísticas através de diversas atividades. O Espaço Fluxo tem como um de seus principais objetivos  a criação de Espaços que funcionam como Zonas Autônomas Temporárias, que supram as lacunas existentes entre a produção e a exibição de arte, promovendo o diálogo, a troca de experiências e propagando o conhecimento artístico.
 Aqui na Argentina está apenas no início o processo de articulação para a consolidação do FDE Argentina, e eles se mostram muito interessados em saber o que foi feito no Brasil, o que deu certo, o que não deu certo, quais são as características da cena independente brasileira. Uma das grandes diferenças, com certeza, é que aqui eles não contam com qualquer fonte de financiamento oficial. Não é como no Brasil, onde é possível submeter projetos para editais de nível nacional,estadual e municipal, em alguns casos. Então tudo aqui é feito mais na raça, e o regime de colaboração aqui transcende organizações, instituições. Podemos ver isso na maneira como todos aqueles com quem temos interagido para viabilizar nossas atividades agem, querendo ajudar mesmo, ligando aqui no QG de La Paternal, ou mandando mensagens no Gtalk, Facebook e outras mídias sociais. 
Chegamos em casa e logo dormimos, pois a gravação começaria na manhã seguinte. Combinamos de chegar ao Estudio ION às 10:30 da manhã para começar a montar tudo.
Chegamos ao Estudio ION exatamente às 10:33, e lá já estavam o Matías Conejo, Juank – ex-baixista dos Conejos- , Juan Stewart e Lulo Rock.  Não dá para escrever aqui sobre a sensação que sentimos ao entrar lá. Só vendo na cara de cada um nos vídeos que postaremos a seguir – e que mandamos em primeira mão pelo Facebook, pois não agüentamos e à medida em que eles iam ficando prontos a gente já queria pôr no mundo.  Poder ter nosso disco gravado nos Estudios ION, uma instituição musical, que tem grande importância na história da música argentina, é um grande privilégio. Na verdade fomos ter a noção do tamanho do privilégio quando entramos no estúdio principal.  Cada um de nós ficou maravilhado com o que poderia desfrutar para gravar o disco. Microfones, pedais, uma mesa analógica antiga, a mesma que está nas fotos em preto-e-branco afixadas nas paredes do salão de entrada.
Nossos “comandantes” merecem um parágrafo à parte. Juan Stewart é o responsável pelas gravações. Ele possui um trabalho consolidado de música experimental, já trabalhou em trilhas de filmes argentinos. Seu interesse no nosso som e sua solicitude, educação e gentileza nos assusta até agora.  O “co-piloto” é Luciano, ou Lulo Rock, baterista de bandas como Motorama e Encorazado Potenkin e expert em sons de bateria. Ele é uma pessoa muito engraçada, tem um jeito meio de italiano, e quando chegamos ele já me falou, em portunhol perfeito: “cara, vamos a facer umas cosas muy doidas com esse ambiente.” Ele já esteve no Brasil algumas vezes tocando, inclusive em Belo Horizonte,e me contava que quando tocou lá no Lapa sua bateria caiu do praticável, o que, contado do jeito “Lulo”, é de rachar o bico.  Seu ânimo e disposição são muito peculiares, ainda mais se tratando de um figura de 1,65m, meio flaquito, mas segundo me disseram, que toca forte que nem um capeta. Pudemos observar isso algumas vezes desde então...
As primeiras horas foram gastas com a afinação da bateria, o posicionamento de microfones, e cada vez mais eu ia ficando de cara com a nave sendo montada, diversos microfones valvulados, a maioria da marca Neuman, coisa que eu nunca tinha visto antes, só falado a respeito.  Chegamos ao estúdio Às 10:30 da manhã e a bateria só ficou pronta por volta das duas da tarde. Com a bateria pronta, fui à cozinha do estúdio pra ver o que a galera tava arrumando, e eles estavam mandando um pão de forma com presunto, queijo e “salsa golf”, vulgo Pic 3 em 1. Esse foi o nosso menu durante todo o dia, pois não vimos as horas passarem com tantos brinquedos sensacionais à disposição.
A primeira música que gravamos foi a “Hum”. O primeiro take foi fraco. O segundo poderia ser “a boa”, mas decidimos fazer mais um, e foi a que rolou.  Para “Tio Sun, a segunda música, decidi mudar a afinação da caixa, e após os testes gravamos outros três takes, também dessa vez o terceiro foi o que ficou. Cumprimos com o nosso planejamento da pré-produção, que estipulava a gravação de duas músicas no primeiro dia. Nesse primeiro dia recebemos a visita de Dario Margules, da banda Pollerapantalón (que tocou no festival S.E.N.S.A.C.I.O.N.A.L em Belo Horizonte esse ano). Havia combinado de me encontrar com ele para deixar alguns Cds da Pequena Morte a pedido do Tamás Bodolay (missão cumprida, Tamas!) e ficamos conversando um pouco antes de entrarmos para gravar mais. Dario ficou pouco mais de uma hora no estúdio, mas nos fez um convite para darmos uma canja no intervalo do show que o Pollerapantalón faria na noite da segunda, convite esse que depois tivemos que negar, pois todos estavam cansados... Pegamos o ônibus lotado de volta pra casa e no caminho paramos para comer alguma comida de verdade, pois ficar só no sanduíche com salsa golf não sustenta ninguém não.
No segundo dia de gravações o bicho realmente pegou. Chegamos ao estúdio às 11 da manhã, conforme combinado com o Juan Stewart, que, muito gente fina, nos trouxe “medialunas e churros” de café da manhã. Comemos um pouco, conversamos e fomos para a sala de controle para ouvir de novo as músicas gravadas na terça. O medo era que a gente tivesse cedido ao cansaço e considerado os takes bons mesmo com defeitos, mas para nosso alívio os takes estavam realmente bons, e passamos para a terceira música, “Não Mais”. Para não mais utilizei pratos diferentes dos utilizados no primeiro dia, pois precisava que eles soassem mais e com som um pouco mais grave, para segurar a dinâmica alta da música. Lulo sugeriu que mudasse também o condução, para poder ter uma opção a mais de corte, e passei a usar então um super crash Sabian de 20’ e um ride da Stagg de 22 polegadas pelo qual eu estou apaixonado até agora. Não Mais foi gravada em dois takes separados, para podermos fazer as mudanças de configuração necessárias. Fizemos três  seções de dois takes, e a segunda foi a que ficou. A quarta música – e segunda do dia – foi “Salto no Vazio”, e pedi ao Lulo uma bateria mais “flotante”, vulgo flutuante. Decidimos abrir mais os microfones ambiente, pois caso sentíssemos que estávamos perdendo definição poderíamos controlar com os microfones da própria bateria. Mais ajustes na caixa e toma gravação. Salto no Vazio foi tranqüila, em dois takes matamos a parada. Paramos para almoçar um rango bom demais e partimos para “A Fuga das Mulheres Ruivas para Vênus”. Essa deu trabalho pra caramba, todo mundo passou aperto. Foi bom, inclusive, porque acertamos algumas coisas que estavam se chocando nos instrumentos. Planejamos gravá-la em duas partes, mas a que ficou boa foi aquela em que a gente decidiu tocar tudo sem parar, essa gravação captou bem o clima da banda. Quando terminamos a “Fuga” ainda eram 21:00, e decidimos então que faríamos “De Tanto Ser”. Caso não conseguíssemos no tempo restante, já tínhamos cumprido o nosso planejamento mesmo, que era de gravar três músicas no segundo dia. Mas “De Tanto Ser” foi boa demais de gravar, o som da bateria com uma caixa mais profunda, afinada em dó (meio surreal essa afinação, nunca tinha tocado uma caixa com esse som, se adaptou muito bem às vassourinhas), os teclados do Salgado. Gravamos em quatro takes, mas eu gostei das quatro baterias que eu gravei, de modo que a que os outros três escolhessem estava boa para mim também.
Saímos do estúdio há mais ou menos três horas felizes. Estamos adiantados, mas amanhã serão as músicas mais trabalhosas. Não digo complicadas, pois a “Fuga” é a mais complicada, isso é consenso na banda. Faremos a outra “Fuga” e uma música nova que compusemos durante a pré-produção.
Se depois desse último dia da gravação das bases tivermos ânimo para escrever mais alguma coisa, o faremos com gosto. Mas é mais provável que a gente vá querer tomar umas cervejas, porque a sensação do dever cumprido é boa demais.
Seguem os vídeos do nosso diário de bordo que ainda não foram postados aqui. Esperamos que vocês curtam!
Saludos!

Raul
4Instrumental + Carou




Um comentário:

leolimaduarte disse...

4intrumental....4 ou mais sons simultaneos, harmonicos, organizados dentro de um pulso quase sempre constante. Em outras palavras, muito doido, sonzêra!!!!!!!